Na manhã do dia 30 de julho, o Espaço Seu Domingos recebeu uma roda de prosa para discutir a implementação da sabedoria popular dentro das Universidades
por Caio Sena
O último dia do XI Encontro de Culturas
começou com uma boa roda de prosa no Espaço Seu
Domingos. Um dos objetivos da conversa foi discutir como os
mestres tradicionais e sua sabedoria popular poderiam ser
absorvidos pelo meio acadêmico, proporcionando assim
uma integração de conhecimentos. Por isso, o momento
recebeu o título de “Campo e Campi:
integração de saberes”.
Enquanto Marise Barbosa, coordenadora das rodas de prosa,
explicava o objetivo e a importância das rodas para o
Encontro de Culturas, o Terno de Moçambique de
Fagundes (MG), comandado pelo Capitão Júlio
Antônio, passava pelo lado de fora do Espaço
Seu Domingos. Unanimidade: a roda fez uma pausa e só
recomeçou depois que todos os participantes voltaram para a
sala, com os olhos e os corações renovados pela
devoção do Congo.
A conversa foi direcionada por dois professores convidados da
Universidade de Brasília (Unb): Antenor Ferreira, do
Departamento de Música, e Nina Laranjeira, da Faculdade de
Ciências Naturais, que abriram espaço para Giselle
Dupin, Assessora Internacional da Secretaria da Cidadania Cultural
do Ministério da Cultura (MinC) e Sinvaline Pinheiro,
representante popular em Minaçu e cronista do Encontro de
Culturas. Estiveram presentes ainda alunos da Universidade de
Brasília, Universidade Federal de Goiás, Universidade
Federal de Santa Catarina e interessados no assunto.
Experiência
O professor Antenor Ferreira apresentou o projeto Encontro de
Saberes Tradicionais, idealizado pelo antropólogo
José Jorge de Carvalho e realizado na Universidade de
Brasília em 2010. “A ideia do projeto é
convidar mestres da cultura tradicional, vindos de vários
lugares do Brasil, para ministrar aulas sobre temas ligados ao
universo cênico-musical e questões
ecológicas”, explicou Antenor.
Segundo ele, para esta primeira etapa do projeto, foram
convidados mestres da Congada de
Moçambique e do Cavalo Marinho. A conversa foi
continuada pela professora Nina, que aproveitou o momento para
contar como foi a experiência em Brasília e como isso
repercutiu dentro da Universidade, além de destacar a
importância do projeto para a cultura brasileira.
“Nossas raízes estão sendo perdidas, mas se a
sociedade assume o papel e o compromisso de trabalhar com essa
cultura tradicional, temos a chance de reavivar a
tradição”, destacou.
Impressões
Sara Melo, 27, bióloga e mestranda em
educação e estudos culturais em Santa Catarina ficou
encantada com o projeto defendido pelos professores. “A ideia
é ótima, vou levar para minha universidade e
estimular meus professores a correrem atrás de levar isso
para nosso universo. É um caminho possível e
enriquecedor para a academia”, destacou.
Já Tona Forrest, 19, estudante de História na
Universidade de Brasília, participou diretamente do projeto:
“Foi um momento muito especial, me senti conectada com minha
identidade, que é a brasileira. Os mestres ganharam uma
disciplina dentro da grade livre e trouxeram mais do que o
conhecimento popular para a universidade, foi um momento para
repensar o formato e o modelo atual das aulas e métodos
avaliativos”.
Para Giselle Dupin, “esse projeto merece ter continuidade,
não apenas na UnB, mas também em outras
universidades. É importante debater e discutir o assunto
até para o projeto ser divulgado e multiplicado, o que eu
puder fazer de dentro do Ministério, com certeza vou
fazer”, pontuou.